Saúde no distrito de Beja – Entrevista com o presidente da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo

Um ano depois de ter assumido a presidência do Conselho de Administração (CA) da ULSBA – Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, o economista José Carlos Queimado concedeu uma entrevista à Planície.
Abordou a questão de envelhecer com qualidade na região, também a requalificação do Centro de Saúde de Moura e o que vai mudar nesta unidade de saúde. Ainda as prioridades da ULSBA, a falta de médicos de família para os cerca de 20 mil utentes do território e o que está em questão com esse assunto, sendo essa a sua “preocupação número um”. Por outro lado, a requalificação do bloco de partos e o projecto de ampliação do Hospital José Joaquim Fernandes, com um prazo de entrega até 30 de junho deste ano.

No dia em que foi inaugurado em Moura, o primeiro Pólo do Centro de Competências de Envelhecimento Activo (CCEA) do Baixo Alentejo e lançada uma rede de transportes articulada para garantir o acesso aos cuidados de saúde da população mais idosa da região, a conversa centrou-se na saúde do distrito de Beja.
José Carlos Queimado considerou que num território com população envelhecida como o do Alentejo, este Centro “tem uma importância fundamental, porque a nossa população é das mais envelhecidas da Europa e dentro da população portuguesa, a do Baixo Alentejo é das mais velhas”. Em conjunto com outras características como “o isolamento e a elevada dispersão geográfica”, factores que contribuem ainda mais para esse afastamento territorial. Daí serem essenciais para o responsável da ULSBA “os Planos de Acção”, como este que foi criado em Moura, em parceria com todas as entidades. “A ULSBA é o único parceiro que está aberto 24 horas por dia com as urgências, onde as pessoas recorrem a nós a qualquer hora. As pessoas são da comunidade e importa que todos os principais actores estejam envolvidos na procura de respostas capazes de as manter o mais próximo das suas casas e em condições”, observou.
Sendo Portugal pioneiro na criação de um Plano de Acção para o Envelhecimento Activo, José Carlos Queimado, afirmou por outro lado que é muito importante “dotar os parceiros públicos, privados e sociais de formação para cuidarem destas pessoas. Nós (ULSBA), já o fazemos em termos de saúde, mas temos de articular melhor os diversos recursos que existem na comunidade, seja através das autarquias ou das instituições com a mesma finalidade. As pessoas que vivem aqui, a maior parte delas são idosas, então temos de cuidar delas de forma a mantê-las saudáveis o mais tempo possível e terem capacidade para ter uma vida com qualidade no seu ambiente normal. A ULSBA estará sempre disponível para trabalhar com todos”.

Com Moura “no centro das atenções”, aproveitámos a conversa para saber quando arrancam as obras de requalificação do Centro de Saúde de Moura. O projecto foi apresentado em final de janeiro pela Câmara Municipal de Moura e pela ULSBA e neste momento “encontra-se em apreciação pelas estruturas da saúde do PRR – Plano de Recuperação e Resiliência, nomeadamente pela ACSS – Administração Central do Sistema de Saúde, a estrutura do Ministério da Saúde que avalia estas candidaturas. Falta essa entidade pronunciar-se sobre a candidatura e assim que der o seu parecer favorável, irá assinar um contrato de financiamento com a autarquia de Moura para a execução da obra”.
A empreitada vai originar “uma intervenção profunda” no Centro de Saúde de Moura, “com a finalidade de acrescentar algumas áreas entre elas a reabilitação, muito importante para o envelhecimento, mas também alguns gabinetes para profissionais de saúde, mas sobretudo o objectivo principal é requalificar o edifício, torná-lo moderno para que os profissionais e quem vai ser lá atendido tenham todas as condições”.
José Carlos Queimado está há um ano na presidência do Conselho de Administração da ULSBA e garante que a principal preocupação tem sido a de manter os serviços abertos, “tendo em conta a realidade nacional sobretudo os Serviços de Urgência, nós temos conseguido manter todas as nossas Urgências no Hospital José Joaquim Fernandes a funcionar e isso só tem sido possível graças ao esforço dos profissionais que lá trabalham e a muitos outros, que têm vindo trabalhar connosco e que é garantir o máximo de acesso às pessoas. Por outro lado, temos tentado melhorar o acesso programado e sabemos que assim também controlamos melhor as idas à Urgência”.
Com esta acção, o hospital conseguiu “providenciar mais primeiras consultas em várias especialidades e reduziu as listas de espera em algumas especialidades de forma muito significativa, como é o exemplo da Cardiologia e de outras, melhorando esse acesso. O número de cirurgias também aumentou significativamente. Por outro lado, e essa tem sido a preocupação número um que nos mantém sempre a tentar encontrar soluções e que é os médicos de família. Nós ainda continuamos com cerca de 20.000 pessoas sem médico de família, porque sabemos que se todas as pessoas tiverem acesso ao médico de família e a uma equipa de saúde familiar, vão ter melhor saúde, vão recorrer menos às urgências e vão ser melhor acompanhadas”, admitiu.
Contudo, diz que “tem sido difícil nos concursos que as pessoas nos escolham, estamos a tentar alterar essa realidade e esperemos que em breve no Concurso de Médico de Família que vai decorrer em abril e maio, possamos ter o que não tivemos nos Concursos anteriores. Estamos com uma expectativa sólida de ter pelo menos cinco novos médicos de família aqui na ULSBA, tendo em conta que não tivemos nenhum nos últimos Concursos”.
Na opinião do economista, o facto de a região não ser uma escolha para os médicos de família, está relacionado com “uma questão multifactorial e não tem a ver só com a saúde. O pessoal médico é altamente diferenciado, tem uma formação longa e como nós não temos tido capacidade formativa, estas pessoas entre os 20 e os 30 anos, fazem a sua formação em outros sítios do país e muitas vezes já têm a vida estabelecida quando têm de escolher onde se vão vincular. Quando não fazem a formação aqui, torna-se mais difícil captá-los para cá. Depois, há um contexto territorial que pode não ser o mais atractivo. O interior do país tem muita dificuldade em fixar não só médicos, mas todo um outro conjunto diferenciado de profissionais. Tem a ver com o próprio contexto económico, social, cultural, entre outros, mas isto tem de ser medidas que vão para além da saúde. Ainda bem que alguns dos nossos autarcas já têm programas e capacidade de oferecer alojamento para fixar médicos”, afirmou.
Quanto aos investimentos mais urgentes da ULSBA, o presidente do CA revelou à Planície que “nas próximas semanas irá ser aberto o Concurso a empreitada para renovar e requalificar o bloco de partos, para que o Hospital José Joaquim Fernandes tenha finalmente uma sala exclusiva cirúrgica para os partos. Depois estão a decorrer estes investimentos nos Centros de Saúde e esperamos que a aprovação das candidaturas nos permita lançar essas empreitadas para termos melhor saúde nos Cuidados de Saúde Primários, mas a nossa prioridade é conseguirmos concluir até junho, o plano de ampliação e requalificação do hospital. Estamos a fazer esse trabalho”, informou.
Sem dizer o investimento em questão “porque o trabalho está em curso”, já que um dos pontos do projecto “é saber quanto é que custa e quais as fontes de financiamento para o mesmo”, afirmou José Carlos Queimado, um trabalho que tem de estar terminado até 30 de junho.

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