No Alentejo, o dia de hoje é celebrado no campo com as famílias e amigos em jeito de partilha. Esta é uma tradição antiga que se manteve muito enraizada no concelho de Moura até aos anos 80, apesar do conceito ainda hoje não ser esquecido assim o tempo o permita, o que não é o caso este ano.
A história e a cultura do concelho explicada de forma exímia pelo professor José Chaparro, colaborador da Planície, onde viajámos até ao século XVII no tempo da Quaresma e ao culminar de todas as abstinências precisamente na segunda-feira de Páscoa num passado recente.
Comissão de Festas de Moura prepara Páscoa no Parque de Feiras e Exposições
Nestes hábitos antigos das populações do concelho o período Quaresmal era vivido intensamente durante três a quatro dias. O Jejum fazia parte do dia-a-dia; não se amassava nem cozia pão e não se podia lavar roupa. “As lavadeiras não podiam estar nas célebres passadeiras do Brenhas (Moura), nem as pessoas em casa podiam lavar porque não podiam torcer a roupa. Nestes dias, sobretudo na quarta e na quinta-feira da Quaresma, era o dia em que os judeus estavam a fazer as cordas com que iriam matar Nosso Senhor. E não se podia torcer a roupa por causa disso”, clarificou José Chaparro.
Os costumes não ficam por aqui. “Nas tabernas o canto estava proibido e não se podia jogar às cartas nem ao dominó nas tabernas, clubes e sociedades. Havia toda uma atmosfera de recolhimento que se enquadrava numa série de outras actividades religiosas durante este tempo”, desenvolveu o historiador.
“Tudo isto nos leva à segunda-feira de Páscoa, o dia do verdadeiro escape, o dia em que já terminou a Quaresma e libertos desse peso eclesiástico, as famílias saem para o campo, um tempo vivido na primavera onde se alia o religioso e o profano”, palavras do professor de História sobre as tradições no concelho de Moura. Hoje, com os campos ensopados de água e lama, a melhor sugestão de José Chaparro é sobretudo um convite solidário. “Vamos até à Comissão de Festas de Moura no Parque de Feiras e Exposições e esta é a nossa forma de partilha e de ágape, de estarmos com os nossos amigos, com as nossas famílias e a ajudar a comissão de festeiros de Nossa Senhora do Carmo e a respeitar um pouco da nossa tradição mourense. E é com este apelo que vos deixo”.