A ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável acompanhou a apresentação da Estratégia Nacional “Água que Une”, realizada este domingo em Coimbra e alertou para a necessidade de “conhecer em detalhe os seus fundamentos. A associação defende que um tema de tão elevada importância “exige um processo de consulta pública alargado”, permitindo à sociedade civil pronunciar-se e contribuir para “soluções mais equilibradas e sustentáveis”.
No que diz respeito à zona de Alqueva, não é de todo um bom exemplo para a ZERO, tal como afirmou Sara Correia à Planície. “Do nosso ponto de vista esta estratégia “Água que Une” é claramente errada, ou seja, nós vemos aquilo que está a acontecer em Alqueva com a proliferação de culturas permanentes em regime intensivo que tem vindo a ter vários problemas ambientais e sociais e aquilo que nós vamos ver é um expandir do problema a outras regiões do país”.
Os ambientalistas alertam para os impactos negativos do exemplo seguido em Alqueva e o que se está a apostar é num modelo de “desenvolvimento agrícola das culturas permanentes em regime intensivo, culturas que requerem grandes exigências a nível de consumos hídricos e nós sabemos que no futuro as disponibilidades hídricas serão ainda menores do que aquelas que nós temos hoje em dia em virtude das alterações climáticas. Vai haver tendencialmente uma redução da precipitação ao longo dos anos, até ao final deste século e vamos ter menos água disponível”. Logo, “ao estarmos a investir numa estratégia focada no armazenamento de água, na disponibilização de água para novos regadios, vamos estar a acrescentar ainda mais necessidades hídricas àquelas que temos neste momento”, afirmou.
Na região, a preocupação de Sara Correia prende-se com aquilo que são os “novos regadios”, um investimento que incentiva as “culturas permanentes de regime intensivo, muito focadas para a exportação e não tanto no sentido de nos tornarmos mais resilientes às alterações climáticas e a todo o contexto geopolítico que temos. Vamos continuar a estar dependentes do exterior para o nosso autoaprovisionamento especialmente no caso das leguminosas que produzimos 14% do consumo nacional com investimento na produção de alimentos quase exclusivamente para exportação em que nada contribui para a nossa segurança alimentar”.
A ZERO apontou ainda outro ponto negativo à agricultura praticada em Alqueva e que te, a ver com a questão dos “contratos precários de trabalho. Estamos a ter situações de quase escravatura moderna para quem trabalha nestas explorações agrícolas.
Percebemos que de facto é difícil haver mão-de-obra para o trabalho, mas não pode ser à custa destas pessoas e de as deixar numa situação de grande vulnerabilidade”.
Por outro lado, o facto de não haver quem questione como é que a agricultura vai utilizar a água da Estratégia Nacional é mais um revés para Sara Correia.

O plano ideal para os ambientalistas não só para Alqueva, mas para muitas outras regiões deve passar por haver um foco “na eficiência hídrica e apesar de tudo esta estratégia tem algumas medidas direccionadas para a questão da eficiência e da reutilização de água, mas tem que definir que modelo de desenvolvimento agrícola é que queremos no futuro. Se de facto queremos estar a investir neste tipo de culturas ou se queremos um modelo agrícola que nos torne mais resilientes e com maior segurança alimentar”, concluiu a Associação Sistema Terrestre Sustentável sobre a Estratégia Nacional “Água que Une”.