Não há qualquer dúvida: a agricultura da região do Baixo Alentejo sobrevive graças à mão-de-obra estrangeira, sobretudo originária da Índia. No caso da olivicultura predominante no concelho de Moura, a demanda é muita. José Duarte, representante dos agricultores do concelho, corroborou a situação. “A necessidade de mão-de-obra estrangeira na nossa região, nomeadamente no olival, é essencial para o desenvolvimento da nossa actividade, mas é sobretudo sazonal ao contrário de outros sectores de actividade agrícola. Na olivicultura em específico, precisamos durante a campanha da azeitona e depois na altura da poda do olival. Estamos a falar de um período de 4 meses, mais ou menos”.
O presidente da Cooperativa Agrícola de Moura e Barrancos lembrou que esta “não é uma situação actual, sempre existiu a utilização de mão-de-obra de outros países. Primeiro foram os trabalhadores ucranianos, moldavos e romenos e, desde 2017/18, temos vindo a assistir a um aumento de mão-de-obra de trabalhadores provenientes do Hindustão (Índia), a predominante na agricultura. Sem ela era impossível nós fazermos a colheita de azeitona”, concretizou.
Os números da campanha de azeitona de 2024/2025, não são concretos no que diz respeito a essa contratação. “Se calhar 85% dos trabalhadores que estiveram na campanha são mão-de-obra estrangeira”, contextualizou. Na verdade, o recurso especializado faz falta e é “essencial para muitos sectores da actividade agrícola, nomeadamente para os frutos vermelhos e as hortícolas”, cada vez mais a passar por essa “dependência”.
O empresário agrícola do concelho de Moura, reflectiu ainda sobre os números a nível nacional no sector agrícola. “A mão-de-obra estrangeira já representa 40% da mão-de-obra total. Agora há que criar condições para que esses trabalhadores consigam exercer a sua actividade de uma forma digna”, considerou.
Enquanto Vogal da CAP – Confederação de Agricultores de Portugal, a maior do país, José Duarte disse à Planície ter “plena consciência que para nós termos uma agricultura desenvolvida e sustentável, precisamos desta mão-de-obra”, mas não a qualquer custo. “A nossa posição junto do Governo é sem dúvida, se faz falta, tem de haver, com controlo e fiscalização, mas uma das preocupações da CAP é criar condições dignas para que esses trabalhadores desenvolvam a sua actividade com segurança e que tenham uma habitação condigna”, frisou. Sobre o assunto, a Confederação tem alertado a tutela, para a “necessidade de desburocratizar certas políticas do Governo”. O empresário exemplificou. “No Sudoeste Alentejano, em que as empresas agrícolas querem criar condições para alojar esses trabalhadores (e não conseguem) devido a questões relacionadas com a gestão do Parque do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, em que não lhes é permitido a essas empresas construírem habitações para albergar esses trabalhadores. Tem de haver por isso, uma flexibilização por parte da tutela, para as empresas que queiram, criarem essas condições e isso é muito importante”, considerou José Duarte sobre a necessidade de haver essa preocupação da parte do Ministério da Agricultura e Pescas em relação aos trabalhadores estrangeiros.