É uma estória de ficção, mas que nos pode tocar a todos. Espero que tenham a paciência de a lerem e que o espírito da paz, do amor, enfim do Natal se sobreponha a tudo o resto, com altruísmo, paz e humanismo. Reza então a estória que vos quero contar:
“…Ana, de 8 anos, filha de um oficial do exército israelita e de uma médica de urgências em Telavive, há 2 anos que lhe tinha sido diagnosticada uma leucemia. Transfusões após transfusões, tratamentos após tratamentos, Ana passava mais tempo no hospital do que em casa. E sofria, baixinho, de olhos castanhos penetrantes, mas tristes, todavia sempre com um sorriso leve no seu pequeno rosto cansado. Os pais tinham procurado por todo o lado, em Israel e no estrangeiro, por um dador compatível. Cartas, anúncios, redes sociais, rádio, televisão… Mas nada e as esperanças eram cada vez mais escassas. Estavam em meados de dezembro o pai estava em Gaza, comandando um grupo de soldados que pressupostamente combatiam os terroristas do Hamas. Após um bombardeamento, verificavam os estragos e quais os sobreviventes. Eis que um choro sumido o fez virar a cabeça e, instantaneamente olhar para um buraco entre os escombros. Não havia socorristas. Tomou então a decisão de, embora contra algumas as regras militares, de verificar o que se passava. Um gemido, doente, quase envergonhado tornou-se audível e com a ajuda dos seus homens, mandaram à fava as regras e escavaram, retiraram pedras e entulho, moveram obstáculos vários até chegarem a um miúdo agarrado à sua mãe. Não hesitaram, retiraram mãe e filho, ele de olhos escuros, bem abertos, coberto de terra e poeira, ela de olhos fechados, inanimada ainda abraçada ao filho. Como comandante, ordenou que levassem as vítimas numa ambulância, para o hospital mais próximo em Israel.
Dias mais tarde, vésperas de Natal quando ia para casa, o oficial teve uma extraordinária notícia vinda do Hospital. Mais tarde, já em casa e junto da filhota, a esposa contou-lhe os pormenores: “Tinham chegado ao hospital, hà pouco mais de uma semana, duas vítimas palestinianas em estado muito grave. Uma mulher jovem em coma, com diversas lesões e hemorragias internas e um miúdo com cerca de 7 ou 8 anos, com escoriações várias, fraturas num braço e numa perna. Fizeram tudo para salvar a mãe e evitar a amputação do braço do filho. Foram horas e dias muito angustiantes e difíceis. Após diversas operações e uma infinidade de análises e tratamentos, a mãe melhorou e recuperou a consciência; conseguiram ainda evitar a amputação do braço do miúdo, Ismael de seu nome”. Continuou a narração, sublinhando que como médica, sem saber como nem porquê e após tantas centenas de doentes que lhe passaram pelos seus cuidados, sentiu desde a primeira hora uma forte afinidade e uma grande compaixão para com aquela família incompleta de mãe e filho. Depois de inúmeras análises e transfusões sanguíneas, constatou que o Ismael tinha o mesmo grupo sanguíneo raro da Ana (AB negativo). Uma força poderosa, vinda do seu interior fez com que, impulsivamente, perguntasse ao Ismael se lhe podia fazer mais alguns testes e exames, relativos à sua medula e não aos seus ferimentos. Explicou-lhe o porquê. Ismael, com os olhos escuros humedecidos, agora bem mais alegres disse “Claro! Se é para salvar uma menina, tal como tu me salvaste a mim e à minha mãe!…”. Tinha de ter também o consentimento da mãe, que não conseguia ainda falar. Ao perguntar-lhe em palestiniano, ela olhou para o filho que se tinha deslocado no propósito, numa cadeira de rodas para junto da sua cama. Ismael acenou afirmativamente com a cabeça e a mãe, com os olhos escuros como o filho, olhou para a médica e com uma tão infinita, como improvável alegria estampada no rosto, acenou igualmente que sim. Fizeram-se então as análises e a grande notícia foi a de que a medula de Ismael era compatível com a da Ana!!! Choraram os dois de felicidade. Ainda que muito frágil a pequena Ana sentiu-se também inundada pela alegria dos pais e perguntou soluçando, “mãe, esse menino, o Ismael, vai fazer com que eu me possa curar? Quero que ele e a sua mãe fiquem sempre ao pé de nós, está bem?”. Os pais afirmaram que tudo iriam fazer para tal acontecer. Mas a Ana afirmou ainda, “Pai, faz com que a guerra acabe, não deixes que mais meninos como o Ismael e a sua mãe sofram. É quase Natal e eu quero que a guerra acabe.”. Em uníssono, pai e mãe sussuraram, “Tens razão, já chega de sofrimento e de guerra, essa também é a vontade de Jesus e de Alá, Deus de Ismael. O fim da guerra e do sofrimento seria o maior presente de Natal para todos nós, israelitas, palestinianos e todos os homens e mulheres de boa vontade…”.
Caros colegas e amigos, desejo-vos um Feliz Natal e que 2025 vos traga muita saúde, sorte e alegria.
José Velez