O projecto LIFE Aegypius Return arrancou com o objectivo de duplicar a população reprodutora de abutre-preto (Aegypius monachus) em Portugal, que, em 2022, era de cerca de 40 casais, em quatro colónias. Em 2024, o programa registou 108 a 116 casais nidificantes, que produziram pelo menos 48 crias voadoras. O sucesso reprodutor aumentou ligeiramente e também já se conhece uma nova e quinta colónia reprodutora, mais uma evidência da expansão desta espécie ameaçada no país.
A organização destaca que o crescimento tem sido “lento, mas firme” da espécie protegida com o estatuto actual de “Em Perigo de Extinção”, em Portugal, que tem vindo a ser detalhadamente monitorizado pelos parceiros do projecto LIFE Aegypius Return, com apoio do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e das Organizações Não Governamentais (ONG) Rewilding Portugal e Quercus. O projecto arrancou em 2022, quando se conheciam em Portugal aproximadamente 40 casais, distribuídos pelas colónias do Douro Internacional, Serra da Malcata, Tejo Internacional e Herdade da Contenda, no Alentejo. Em cada colónia, os resultados são positivos.
A Herdade da Contenda, propriedade detida pelo Município de Moura, acolhe a segunda maior colónia reprodutora de abutre-preto do país. No ano passado, foram ali registados 17 a 18 casais nidificantes que produziram cinco crias recrutadas para a população. Estes números aumentaram em 2024, com um total de 20 a 21 casais e sete crias recrutadas. Esta colónia é também transfronteiriça: cinco dos casais construíram ninho já em território espanhol, embora muito perto da fronteira, e, pela primeira vez, uma das crias bem-sucedidas nasceu na Contienda espanhola. Esta colónia é monitorizada pela Liga para a Protecção da Natureza (LPN), em cooperação com a Herdade da Contenda, E.M e o ICNF – DR Alentejo.
Vidigueira, a mais recente colónia, com a descoberta em junho deste ano, pelos técnicos do ICNF de uma quinta colónia reprodutora de abutre-preto, na Vidigueira. É a colónia mais ocidental da espécie, na sua área de distribuição global A descoberta já em plena época de reprodução não permitiu uma monitorização muito próxima para aferir em detalhe todos os parâmetros reprodutores e de forma a salvaguardar a necessária tranquilidade das aves, mas o ICNF confirmou a presença de cinco ninhos e a reprodução bem-sucedida num deles. A cria, um jovem macho, foi marcado com emissor GPS/GSM e batizado de Pousio.
A colónia mais limítrofe e isolada, situa-se no Parque Natural do Douro Internacional e surpreendeu no ano passado com três casais nidificantes. Este ano, a surpresa foi ainda maior. Além do aumento no número de casais para oito, a espécie expandiu pela primeira vez desde o seu regresso para a margem oposta do rio Douro, com três ninhos em território espanhol. No entanto, todos estes novos casais poderão eventualmente ser muito jovens e inexperientes, pois, dos oito casais, apenas cinco fizeram postura.
A colónia da Serra da Malcata (na região de transição da Beira Alta e da Beira Baixa) só se confirmou em 201, com quatro casais nidificantes. Em 2023 haviam sido registados 14 e, este ano, o número voltou a aumentar, para 18. Todos os casais fizeram uma postura, mas só 12 crias sobreviveram até se tornarem independentes. Esta colónia tem vindo a ser monitorizada num esforço conjunto entre os técnicos e vigilantes do ICNF – DR Centro e a Rewilding Portugal.
A recolonização do abutre-preto em Portugal, quatro décadas após a sua extinção enquanto espécie reprodutora, deu-se no Tejo Internacional, com a fixação de dois casais em 2010. Desde então, a colónia tem-se gradualmente expandido, mas com um sucesso reprodutor relativamente baixo. Em 2024, o êxito reprodutor nesta colónia foi de 0,41. Em 2023, conheciam-se 44 a 46 casais nidificantes (cinco dos quais em território espanhol) e este ano foram monitorizados entre 61 a 64, que produziram 24 a 25 crias voadoras. De todos estes casais, cerca de um quarto (15 a 16) optaram este ano pela margem espanhola do rio, de onde resultaram 4 ou 5 crias recrutadas para a população. A monitorização desta colónia transfronteiriça é particularmente difícil, pois, entre ninhos ocupados e ninhos antigos, são já mais de 160 Curiosamente, 12 ninhos construídos por abutre-preto foram oportunisticamente ocupados por casais de grifos (Gyps fulvus). Os trabalhos estão a cargo da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) e contam com o apoio dos vigilantes do ICNF – DR do Centro e da Quercus.