96 anos – O mais antigo Grupo Coral do Alentejo homenageia o Cante Alentejano

“Estado de alma, identidade e cultura”, sentimentos partilhados por Carlos Paraíba, presidente há 17 anos do Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa, o mais antigo Grupo Coral de cantares alentejanos do país que celebra em dezembro 96 anos de existência.
O cantador começou pequenino a sentir as emoções deste canto de alívio espontâneo, quando, na taberna do avô, um dos fundadores do grupo, ouvia os homens a expressarem-se de forma genuína enquanto aqueciam as gargantas com um copo de vinho. E foi assim que nasceu esta vontade que lhe está “no sangue, nas nossas famílias e na nossa cultura. Olho para o Cante com muito amor e carinho”, descreveu Carlos Paraíba. As vozes masculinas soavam alto nas “tertúlias” de final de dia depois do trabalho nas ditas “vendas”, onde só era permitida a presença de homens. Às mulheres, o Cante era consentido nos trabalhos agrícolas do campo, igualmente com este sentimento de pertença e de proximidade e eram as vozes em conjunto das “gentes do Alentejo” que nunca deixaram morrer este património.

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Este género de música tradicional do Baixo Alentejo evoluiu e hoje já utiliza instrumentos como concertinas ou violas no acompanhamento de vozes, mas para o responsável do Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa, o Cante genuíno “é polifónico, sem instrumentos e cantado a duas vozes com o “ponto”, seguido do “alto” que canta uma terça acima da nota em que a música começara”, contextualizou Paraíba, para depois todo o Grupo Coral juntar-se aos restantes versos.

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Mas o que trouxe afinal estes 10 anos de um marco no Alentejo? “Foi um grande passo. As pessoas passaram a olhar para o Cante Alentejano de outra forma e começaram a dar-lhe mais importância e mais valor”, revelou o cantador e para seu contentamento, as camadas mais novas também mudaram de opinião. “Antigamente os jovens achavam que o Cante era piroso ou foleiro e até faziam pouco. Hoje já não. “Correm” muito para o Cante e querem pertencer aos grupos, o que para nós é uma satisfação. Aquilo que lhes peço é que gostem, que sejam assíduos e que não faltem aos ensaios” para honrar o Cante Alentejano que é acima de tudo, “um dom Divino, um cantar ímpar e único” e, do alto dos seus 67 anos, aquilo que deseja é “conseguir cantar até poder”, afirmou Carlos Paraíba, presidente do Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa.

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