Os produtores de explorações de ovinos das freguesias de Póvoa de São Miguel e Santo Aleixo da Restauração, concelho de Moura, estão preocupados com os elevados prejuízos provocados pela doença da “Língua Azul”, habitualmente transmitida por insectos que se suspeita terem vindo do Norte de África arrastados pelo vento, acelerada agora “por um novo serotipo do vírus da Febre Catarral Ovina, o Serotipo 3”, segundo a Federação dos Agricultores do Baixo Alentejo (FAABA). O vírus que não é contagioso nem transmissível aos humanos, está a dizimar ovinos, embora também possa causar problemas aos bovinos e aos caprinos.
Domingos Zeferino, produtor agropecuário de Santo Aleixo da Restauração, perdeu em poucos dias perto de 50 ovelhas das 900 que fazem parte do seu rebanho. Os prejuízos rondam os “seis a sete mil euros” fora os borregos que também morreram, tal como disse à Planície. O “único sustento” do produtor agropecuário que se vê a braços com uma “situação muito complicada” e sem saber a quem recorrer para pedir apoio.
Alison Garcias, residente em Moura, mas com exploração de ovinos na Póvoa de São Miguel também viu sucumbir oito das 150 ovelhas que tem vindo a criar. “Com a doença, pariram os borregos já mortos antes do tempo, houve muitos abortos e outros com pouca saúde, sem contar os animais que se perderam”. Os sintomas são reconhecidos de imediato com demonstração de fraqueza, dificuldade de movimentos e em respirar e patas e focinhos inchados. “Gastei muito dinheiro em medicamentos e mesmo assim não se conseguiram salvar”, queixas do produtor com perdas semelhantes às do colega na ordem dos seis mil euros. “Precisávamos que o Governo nos apoiasse de alguma forma, porque este é o nosso amparo, faz-nos falta e tem muito impacto na nossa vida”, afirmou Alison Garcias.
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A Federação dos Agricultores do Baixo Alentejo (FAABA) já se manifestou no que diz respeito à doença, com o envio de uma carta ao Ministro da Agricultura e Pescas, José Manuel Fernandes, onde foi demonstrada uma “séria preocupação sobre os elevados prejuízos que o sector pecuário do Alentejo está a sofrer em resultado da progressão acelerada de um novo serotipo do vírus da Febre Catarral Ovina, o Serotipo 3 – também conhecida como língua azul”. Até à data, dizem, o Governo “não manifestou, qualquer intenção de apoiar a produção a suportar estes prejuízos e custos acrescidos”.
A FAABA atesta que os primeiros focos conhecidos desta variante surgiram com grande intensidade no Alentejo Central e rapidamente se alastraram aos territórios vizinhos. “Actualmente, praticamente todo o Alentejo está confrontado com este problema. É uma doença de declaração obrigatória que, quando confirmada na exploração, implica um impedimento da movimentação animal durante 60 dias, o que se revela muito penalizador do ponto de vista económico”.
Miguel Madeira, vice-presidente da ACOS, contou à Planície que os prejuízos causados à produção “são muito elevados” e decorrem da significativa mortalidade de ovinos, cuja taxa aumentou mais de 50% face a período homólogo do ano passado, mas também do número elevado de animais doentes que deixam de produzir, dos abortos e dos custos elevados com os tratamentos médico-veterinários que têm que ser administrados a estes animais.
Apelam ao Governo que intervenha nos custos de aquisição e de aplicação da vacina já disponível no mercado e que são “muito caros, perto de três euros por animal”, com esses custos suportados na totalidade pelos agricultores, ao contrário do que acontece em Espanha e França, onde o Estado suporta na íntegra a aquisição da referida vacina. A única forma capaz de travar a doença da “Língua Azul”, que está a evoluir em localidades como Moura, Pias, Serpa, Vidigueira, Barrancos, Portel, Cuba e Beja.