A situação preocupante da falta de stocks de cereais em Portugal, “não é de agora”, é algo que “já vem sendo recorrente há vários anos”. O presidente da Cooperativa Agrícola de Beja e Brinches garantiu à Planície que o problema “é a falta de estratégia que já foi muitas vezes apresentada a outros governantes em outros períodos e nunca foi posta em curso”. Fernando do Rosário conhece a realidade e diz que a solução passa por “apoios aos agricultores para produzirem mais” e consequentemente “aumentar a capacidade de aprovisionamento”.
O empresário agrícola assegurou que há vários anos que a média entre “trigo, cevada, triticale, aveia e milho é próxima dos 15% das necessidades nacionais. Num ano em que as produções são um pouco menores como é o caso deste ano, cada vez se agrava mais a situação”. Os fenómenos climáticos “com períodos de chuva mais concentrados ou ausência de chuva mais prolongada e a falta de apoio na produção de cereais aos agricultores”, são factores que têm contribuído para intensificar o problema.
Segundo as associações ligadas ao sector, o que Portugal tem armazenado chega apenas para duas semanas. O também representante da CONFRAGI – Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal, considera que é “muito importante para um país desenvolvido e com uma estabilidade média, ter uma reserva minimamente capaz de cereais. Não falamos só da base de cereal ou do pão, mas também o que é fornecido pela alimentação animal e a base de uma boa alimentação”, afirmou Fernando do Rosário.
O Engenheiro Zootécnico acredita que o armazenamento de cereais deveria ser uma prioridade do país para que não haja situações limite apenas no dia “em que faltar a comida e a alimentação no nosso prato. Com 15 dias de stock, é muito fácil que possa haver alguma interrupção por qualquer factor e que venha a ter um impacto grande no consumidor e na população em geral”. “É uma realidade de há muitos anos, o que não tínhamos antes era as guerras e todas as problemáticas que têm surgido”, sublinhou. Se o Alentejo outrora foi considerado “o celeiro de Portugal”, o paradigma mudou desde então. Apesar disso, Fernando do Rosário diz que a região ainda tem peso. “Não somos um número muito representativo, mas temos significado dentro do valor dos 15% a 20% da produção. Uma grande parte desse valor ainda continua a ser produzida no Alentejo”, sublinhou. Por ser uma região do país “muito vasta e com muito pouca área irrigada, os restantes solos onde não existem irrigações ficam sujeito à produção pecuária ou à produção de cereais. Com as áreas que temos ainda pode ser produzido muito cereal na nossa região”, referiu o presidente da Cooperativa Agrícola de Beja e Brinches, Fernando do Rosário.