Vindimas na adega da Granja Amareleja – Produção de 3 milhões de quilos de uva

As primeiras castas de uva branca foram entregues na passada semana na Cooperativa Agrícola da Granja Amareleja, um sinal de início da vindima, um processo longo que durará perto de seis a sete semanas e que termina no final de setembro. Em breve, também as castas tintas estão prontas a fazer a sua função, já que nesta altura estão ainda a ser colhidas. São perto de 110 a 120 associados que anualmente fazem essa entrega à cooperativa.  

Longe vão os tempos em que o método de colher a uva, de a pisar e de fabrico era todo artesanal. A evolução e as exigências dos tempos obrigaram a recorrer à mecânica e é assim que por estes lados se vindima, tal como acontece hoje em dia na maioria das adegas do país. Com excepção, neste caso, do Vinho de Talha, um processo manual feito em pequenas quantidades.

LEIA TAMBÉM
Vindima de 2024 – Reforço para garantir a qualidade dos vinhos alentejanos

Para este ano, as expectativas do presidente da Cooperativa da Granja Amareleja são positivas, com uma “boa uva”, estimada entre os “dois a três milhões de quilos de uva”, esclareceu Manuel Bio, um cenário semelhante ao do ano passado. O resultado é uma “campanha normal para o Alentejo”, reforçou.

As principais castas que dão origem aos vinhos que se produzem por cá têm nomes pomposos como o Alicante Boushet, a mais comum no Alentejo, a Trincadeira e a Moreto, esta sim a “mais protegida e que é a bandeira da Granja Amareleja e aquela a que damos mais atenção”, palavras do produtor de vinho. “As castas mais produzidas no país têm o seu espaço na cooperativa e hoje representam 80% das uvas no caso das tintas e nas brancas, continua a ser o Antão Vaz, o Roupeiro e aparecem também os Arintos e outras mais exóticas para a região”, pormenorizou Manuel Bio.

As alterações climáticas obrigaram a antecipar ligeiramente o processo não só no Alentejo, como também em outras regiões, mas nada de relevante, sendo que este não foi o único motivo para o avançar das vindimas. “Também pelas castas que plantamos no Alentejo e que amadurecem mais cedo. O ‘antecipar’ é fruto dos ensopamentos que estão a alterar o país todo”, defendeu o proprietário da empresa Abegoaria.

É preciso vender o vinho, é preciso realizar dinheiro para que esteja disponível para uma nova campanha, o que é muito difícil

Trabalho de resiliência, de vitória e eventualmente de sucesso, são assim as vindimas na região. O presidente da cooperativa prefere chamar-lhe “um grande desafio” e não é difícil perceber porquê. “O sector está num momento crítico por duas razões: nota-se alguma desaceleração no consumo tanto em Portugal como nos mercados externos, com a falta de poder de compra disponível nas famílias, o que acaba por ter esse impacto”. E vai mais longe para que se perceba a actual conjuntura. De facto, “com um conjunto de três a quatro anos que temos tido de produção, relacionado a um conjunto de apoios que tem havido para replantar vinhas menos produtivas por vinhas novas, muito mais produtivas, criou-se um pico de stocks e de existências no mercado que está a pôr uma grande pressão sob os agricultores. É preciso vender o vinho, é preciso realizar dinheiro para que esteja disponível para uma nova campanha, o que é muito difícil. Estamos a começar esta campanha, mas já estamos a pensar na próxima”, advertiu.

Manuel Bio diz que é essencial que “o sector se reestruture em termos de comercialização e de vender mais vinho, que é o mais importante neste momento”.

A parceria entre o Grupo Abegoaria e a Cooperativa Agrícola da Granja Amareleja, definiu uma estratégia comercial “muito focada na exportação”. “Vamos terminar o ano com 50% das vendas no mercado interno e 50% das vendas em exportação e é isto que tem de ser o futuro do sector, ou seja, focar-se em encontrar mercados alternativos”, uma solução apresentada pelo empresário para que se minimizem situações graves a curto/médio prazo. “Os stocks exagerados criam problemas muito grandes aos agricultores, aos viticultores, aos produtores e engarrafadores de vinho, como é o caso deste ano que é um ano crítico”, sublinhou Manuel Bio em entrevista à Planície. 

Scroll to top
Close
Browse Tags