O lagostim, uma das espécies que existe em maior abundância nos rios Guadiana e Ardila e uma das mais apreciadas depois de confeccionada, chega agora ao “Mundo” através de um acordo entre a empresa de pesca Grupo Cortez, sediada em Moura, o conceituado chef de cozinha Rodrigo Castelo e a TAP Air Portugal. O prato de Lagostim do Rio fornecido por Cortez, faz parte da ementa de verão da companhia portuguesa e é servido na Classe Executiva. Esta aventura teve início perto de nós, em Moura, com o foco do empresário proprietário da empresa de pesca com o mesmo nome, que faz a apanha não só de lagostim, mas de todo o tipo de peixe do rio e os resultados estão à vista.
Tudo começou com o acreditar numa espécie e na concretização de uma parceria com o chef do restaurante “Ó Balcão”, Rodrigo Castelo, espaço dirigido por si há cerca de 10 anos, reconhecido este ano com a primeira Estrela Michelin e galardoado chef do ano do Guia Boa Cama Boa Mesa, do Expresso. “Começámos a contactar alguns chefs de cozinha porque achámos que o produto tinha algum fundamento”, começou por contar à Planície João Cortez. A partir daqui o empenho neste objectivo seguiu caminho. “O Rodrigo é muito focado no lagostim e no peixe do rio, fez uma pesquisa intensiva e trabalhou-a de forma exemplar”, contou o empresário. Conseguiu chegar a “altos voos” depois de vários testes e foi aprovado como uma das iguarias de verão. “Ultrapassou as nossas expectativas e não estávamos à espera deste interesse das pessoas fora do nosso país”, afirmou João Cortez.
Ainda antes desta parceria, o crustáceo foi servido com “elegância” na zona VIP do Estoril Open, a maior competição de ténis do nosso país que decorreu em março e abril deste ano.
O grupo de pesca colabora igualmente com outros “mestres” da cozinha que criam pratos com o pescado apanhado e fornecido por si e pela sua equipa. A intenção é “replicar” a receita de sucesso dos lagostins com o peixe que o rio dá. E são muitas as espécies apreciadas. Sável, Lucioperca, Achigã ou o Barbo, entre outras, são degustadas com criatividade e apreciadas fora do concelho de Moura. “Infelizmente na nossa região não está muito divulgado, é quase sempre ‘mais do mesmo’ com o caldo de peixe ou a achigã grelhada, o que é pena”, lamentou o empresário e continuou: “Fornecemos o Sável a Mértola, ao Alandroal, a Portugal inteiro e fico com muita pena que em Moura não haja um único restaurante a servi-lo porque é o peixe mais valioso que temos em Alqueva. Só para ter a noção do que estou a falar: em Vila Franca de Xira, Santarém e Salvaterra de Magos têm o Sável o mês inteiro, ou seja, todos os restaurantes cozinham este peixe que é maravilhoso. E nós aqui não damos apreço”.
João Cortez não desiste, mas gostava que houvesse uma “aposta maior” dos seus produtos na região, “no que é nosso, o que às vezes me deixa um pouco frustrado”. Garante que já fez essa abordagem junto dos restaurantes da cidade de Moura e da autarquia”, mas sem sucesso e aquilo que pede é “um consenso entre todos” e a possibilidade de se “explorar mais” o peixe do rio na criação de novos pratos como fazem outros concelhos. Falou ainda com a Escola Profissional de Moura como um ponto de partida para “uma experiência” e disse estar na disposição de fornecer o peixe para que essa possibilidade se torne uma realidade.
Não esquece o Intermarché de Moura, a superfície comercial onde todas as semanas fornece peixe fresco, “o único sítio com quem trabalhamos no concelho e que nos abriu as portas a nível nacional”, contou.
Moura vai ter a primeira unidade do país de recepção de peixe e lagostim
Há cerca de cinco anos que João Cortez prepara um projecto que pode vir a contribuir ainda mais para o desenvolvimento da actividade: a primeira unidade do país de recepção e preparação de peixe do rio e lagostim, mas vencer a burocracia não tem sido fácil. Agora, tudo indica que será uma realidade. “As obras vão iniciar em setembro/outubro e a unidade será na Zona Industrial de Moura”. Prevê-se mais emprego a juntar aos oitos empregados directos que tem actualmente, fora os colaboradores indirectos que trabalham para si, já que a empresa também é colectora de lagostim. O processo está dinamizado com a apanha do lagostim, do envio para uma fábrica em Espanha onde é cozido e a partir desse centro de distribuição, volta para Portugal e para “o mundo”. João Cortez quer começar a fazer esse trabalho em Moura.
“Cerca de 90% do lagostim é pescado nas nossas águas de abril até agosto”, uma campanha que se divide em duas fases distintas como explicou. “O lagostim da Barragem de Alqueva e do Arroz”, já que nesta fase a aposta é nos arrozais do rio Tejo nas regiões de Setúbal, Alcácer do Sal e Comporta, onde está neste momento. Além da pesca, o Grupo Cortez dedica-se à prestação de todos os serviços náuticos e é o principal parceiro da EDIA e também de todas as “barragens de abastecimento público no Alentejo”, com a “colocação de boias de sinalização, de sondas e de barreiras e pela recolha de água para análises”, onde tem alocada uma equipa permanente a este serviço. A empresa sediada em Moura tem um “volume de negócios considerável”, como disse João Cortez à Planície e ambiciona crescer ainda mais nos próximos anos.