No dia em que se festeja o feriado da terça-feira de Carnaval, a cronista Isabel Balancho, de Santo Aleixo da Restauração, mantém vivas as tradições do Entrudo através das suas histórias contadas na 1ª pessoa.
“Nas duas semanas que antecediam ao Entrudo havia a tradição do chiado. O chiado era: – Bandos de rapazes iam às portas das raparigas ao cair da noite, e corrosivamente faziam uma ladainha … primo, “atão” as suas filhas estão aí, ou, estou aí eu? Se os pais não sabiam que as filhas andavam namoriscando nesses “chiados” “balhava” tudo! E, quando iam embora depois de, por vezes levarem com “penicadas” nas “ventas” diziam: Viva o Entrudo, chupa merda por um canudo. Esta tradição já se extinguiu na minha aldeia.
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Dois dias antes do Entrudo fazia-se a matança do porco, guardavam-se as mioleiras e as “presas” do alguidar, para nos dias do Entrudo se juntarem compadres e familiares. Em volta do lume uma “sartã” grande para a “friginada” dos miolos, aos quais juntavam as presas da massa das linguiças e ovos, aquilo era uma “gorduraça” encarnada…e, quantas amassaduras “raboliam” com o pão acabadinho de sair do forno! Com as fatias de pão “arrabanhavam” aquela “pinguna” toda. Até os pratos ficavam lavados. Ficava tudo empanzinado! A sobremesa eram laranjas para desenfastiar.
“Em riba” uma “tegelada” de café da “chocolatêra” que estava sempre ao lume, café preto…com borrachos ou filhoses feitas uns dias antes. Era grande azáfama. As danças do Entrudo que percorriam as ruas da aldeia…e o pessoal apinhado às esquinas para ouvirem os versos de humor cáustico inigualável da dança que, tanto alegravam o pessoal. Os homens vestidos airosamente de calça preta e colete, com lenços ao pescoço, com panderetas, concertinas e “flaitas”. Também vinham danças de Barrancos logo de “amanhecida”. A noite terminava com bailes de acordéon nas sociedades locais…Era o Entrudo tradicional que atualmente estamos a ver desfiar-se nos tempos … Agora é samba, trajes e música Brasileira … só ainda não conseguem aquela “dubadoira” de dar às “nalgas” como as maganas das brasileiras! Ai se elas tivessem aparecido nesses anos 40/50…aí lhes garanto eu que as “miolêras” e a ” friginada” iam parar onde foram os zorzais do Cevelas!
PS- Eu “nan” posso dizer aonde foram a parar os bandos de zorzais…mas vocês adivinham.