Natal 2023 – As tradições do “antigamente” no concelho de Moura

Uma viagem pelo tempo, levou-nos às tradições mais antigas de Natal no nosso concelho, pela voz de quem sabe e de quem não esquece as memórias do passado.
Histórias contadas na 1ª pessoa que vale a pena recordar de como era feita de sonhos, a noite do nascimento do menino Jesus. A família reunia-se à volta do lume ou da braseira a carvão, conversava e saboreava um “jantarinho” sem grande fartura e uns fritos caseiros, os borrachos e as fatias de ovo, que eram divididos “irmãmente”.

As prendas não existiam, apenas um chocolate pequenino que deliciava as crianças da casa e também não se fazia árvore de Natal, nem se decorava a casa. Havia sim, a simbologia do “sapatinho” que servia para colocar o pouco ou quase nada que se recebia.
Custódia Correia nasceu há 88 anos na freguesia do Sobral da Adiça e há oito que vive no Lar de São Francisco, da Santa Casa da Misericórdia de Moura. Foi aqui que nos recebeu com um sorriso e disposição contagiante.
Recordou um dos Natais da sua vida, com apenas cinco anos. Nessa noite, na expectativa de receber uma prenda dos padrinhos, quase foi vencida pelo sono, mas conseguiu resistir tal não era a curiosidade pela oferta: uma pequena tablete de chocolate. Sem conhecer mais do que isto, contou que ficou “toda contente”.

“Não havia dinheiro para se fazerem natais. Esse era um tempo de miséria e passávamos com uma candeia de azeite e ao lume, com a família toda. Éramos todos muito amigos”.
Guarda recordações dessa altura e diz com emoção. “Não era o tempo que está agora, nem pensar. Era tudo mais sincero uns com os outros e mais amigo. Comia-se e bebia-se e jogava-se às cartas. Os últimos que chegavam, já não tinham cama e deitavam-se ao lume”. “Até que a minha mãe e o meu pai viveram, fui sempre passar o Natal com a minha família”.
Atento, a ouvir a conversa da colega de “casa” estava Francisco Malato, de 92 anos, viúvo. Os tempos difíceis do “antigamente” marcaram-no. “Na minha casa éramos oito irmãos, vivíamos com dificuldades. A família juntava-se na noite de Natal e a minha avó, entretinha os netos e dizia que o menino Jesus descia pela chaminé e que colocava as guloseimas no ‘sapatinho’. Quando acordávamos era uma alegria. Era o que havia. Agora o ‘sapatinho’ já é outra coisa…um bom carro à porta”, referindo-se aos contrastes da vida.

Na consoada em casa de Francisco, fazia-se “um bocadinho de arroz doce, uns borrachos acompanhados de café e no outro dia estava tudo ‘afinado’. Hoje em dia, há mais fartura, mais força, a vida é outra”.
No Lar de São Francisco há cerca de cinco anos, este Natal será passado na instituição. “Estou aqui bem”, diz sem esquecer as saudades do seu espaço. “Tenho uma boa casa, mas não posso lá estar porque estou sozinho. Os filhos e as noras estão a trabalhar e eu vim para aqui com a minha senhora, mas ela faleceu. Não há um dia que não me lembre dela”, recordou. Histórias de vida que se cruzam, que nos ensinam e emocionam.

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