A 2ª maior colónia de abutre-preto situada na Herdade da Contenda, em Santo Aleixo da Restauração, aumentou de 10 para cerca de 18 casais entre 2022 e 2023, um sinal bastante positivo na conservação de uma espécie em extinção no nosso país.
Com a herdade integrada no projecto LIFE (Aegypius Return) que visa precisamente a recuperação do abutre-preto, a crescente ampliação da maior ave de rapina da Europa, mostra que o trabalho desenvolvido pela equipa da Contenda “é de sucesso”, sendo a espécie já considerada “um símbolo da herdade”.

O administrador do espaço, Pedro Rocha, situou à Planície que no nosso país existem apenas quatro colónias da ave em questão. “Existe no Parque Natural do Douro Internacional, na Reserva Natural da Serra da Malcata (Sabugal), no Parque Natural do Tejo Internacional e na Contenda”. Por isso, este é um “trabalho de continuidade que se caracteriza por termos um alimentador licenciado em constante actividade, mas não só. Uma das coisas que fazemos independentemente de existir ou não projectos, por exemplo, cada vez que há situações de tempestade ou ocasiões mais críticas em que há ninhos que caem, a própria herdade desenvolve esforços para os recuperar”.

A ave necrófaga apresenta uma envergadura de quase três metros e é mais do que “um activo ao nível da conservação da natureza”, ou seja, “é motivo de interesse do turismo ornitológico”, afirmou, com a conjugação perfeita entre os dois mundos: por um lado o da divulgação da região e por outro, o da conservação da natureza”.
As equipas de monitorização do projecto LIFE confirmaram um total de 78 a 81 casais nidificantes de abutre-preto em 2023, nas quatro colónias portuguesas, embora, em rigor, sete ninhos se encontrem já do lado de lá da fronteira, em território espanhol, embora ecologicamente integrando as colónias portuguesas. Um dos principais marcos do projecto “foi estabelecer uma situação de referência robusta quanto à reprodução do abutre-preto em Portugal”, de acordo com informação partilhada pelo projecto.
Os trabalhos permitiram monitorizar detalhadamente cada uma das quatro colónias actualmente existentes no país, promovendo a coordenação de esforços entre os parceiros de projecto, mas também com outras entidades, cujo contributo é inestimável para a aferição da situação.
No Parque Natural do Douro Internacional existem 3 casais e 2 crias recrutadas, na Serra da Malcata estão 14 casais e 8 crias recrutadas, no Parque Natural do Tejo Internacional 44-46 casais e 20-22 crias recrutadas e na Herdade da Contenda 17-18 casais e 5 crias recrutadas.
A Contenda, um espaço público com mais de 5000 hectares gerido pelo Município de Moura, tem igualmente outras espécies protegidas que despertam interessam. Falamos do “ex-libris” do espaço, o saramugo, um pequeno peixe que existe na Ribeira do Murtigão, “uma espécie a que herdade tem prestado atenção e desenvolvido em conjunto com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e com a Liga para a Protecção da Nautreza”, declarou Pedro Rocha.
Também o lince é “presença assídua na herdade, assim como a águia real, a cegonha preta e um leque alargado de outras espécies, quer de aves, quer de mamíferos”. Neste caso, o gestor chamou a atenção para a população de veados, “uma das maiores a nível nacional e que não está confinada, anda livremente entre Portugal e Espanha”.

Mas não são só as variedades maiores que merecem atenção. A herdade planeia “investir mais no futuro ao nível dos insectos e das borboletas”, menos visíveis, mas de igual importância para a conservação da natureza.
A valorização do trabalho feito na Herdade da Contendo é já uma realidade nacional e internacional. Contudo, Pedro Rocha quer firmar um maior trabalho de promoção do espaço, por cá. “Ainda há muito desconhecimento sobre a Contenda. Temos de nos dar a conhecer mais e este é um caminho importante que temos de desenvolver”, destacou o administrador.