Vaca Garvonesa – Uma raça em vias de extinção produzida em Moura

Quase por “carolice”, há mais de 20 anos que Jorge Turíbio se interessou pelas vacas Bovina Garvonesa, de Garvão, Município de Ourique, uma raça autóctone que se tem adaptado ao meio ambiente desde há muitas gerações e constitui hoje um legado genético bastante valorizado. “Sempre tive esta raça em mente e até pensava que já não existia, que estava exterminada”, contou em conversa com a Planície.

O produtor, um dos poucos do concelho de Moura, tem actualmente uma manada de quase 200 cabeças, esta que é uma das espécies mais ameaçadas em Portugal, situando-se mesmo no “grau máximo do extermínio”.
A conservação da raça de características únicas como “o testum – a cara negra e os cornos mais abertos e revirados, mais pequena do que a raça Alentejana, mas de porte grande e corpulenta”, tem sido uma preocupação por parte dos produtores.
Muito usada para trabalhos do campo por se dar bem em terrenos agrestes, com a industrialização e o aparecimento dos tratores e das máquinas agrícolas, Jorge Turíbio conta que “foi menosprezada. As pessoas começaram a querer ter raças mais produtivas como a Limousine, Angus e Charolesa”.

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No país todo são poucos os produtores, “cerca de 20 e o núcleo total de vacas são de pouco mais de 1000”, explicou.
Hoje, a Garvonesa existe em quase todo o Alentejo. Em Garvão um dos principais núcleos é o da família Tito Semedo, há ainda na Herdade da Abóboda, uma propriedade do Estado e um produtor dedicado em Coimbra, apesar de inicialmente haver uma produção mais concentrada no Litoral Alentejano.
E é precisamente aqui nesta região que surge o interesse na conservação da espécie através do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV), com o Projecto de Recuperação e Manutenção do Bovino Garvonês. Segundo informação da edição portuguesa da revista National Geographic (NG), que dedicou em 2018 uma reportagem ao tema de capa, com uma fotografia de uma Garvonesa solitária no meio da planície alentejana, a “manobra de resgate e agrupamento do maior número possível de animais que se encontravam dispersos em pequenos” foi essencial “na recuperação da sobrevivência da raça”.

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A raça classificada como Ameaçada de Extinção, vê os riscos de consanguinidade aumentarem, já que de acordo com a NG, a população espalhada por oito explorações do Alentejo, é originária de um único criador que restava na década de 80.
O produtor de Moura sabe bem que é assim ou não estivesse no terreno há tantos anos. “O material genético era muito pouco”. “Eu tenho vários núcleos de vacas em Barrancos, Santo Aleixo e Ficalho com touros diferentes”, adiantou e explicou o procedimento. “Dentro da raça, (o segredo) é pôr os machos o mais afastado possível para não haver malformações e bezerros mais pequenos”. E elogia ainda o trabalho feito com a Universidade de Évora na preservação da raça e do apoio da Associação de Agricultores do Campo Branco, em Castro Verde.

Com grande pena, o engenheiro agrónomo foi obrigado a reduzir a sua manada devido à seca, não por querer, “mas por necessidade”, classificando este como “um ano terrível”. Alimentar as vacas sai muito dispendioso e a “dificuldade em encontrar pastos que não existem”, é ainda maior. A solução são “as palhas, as forragens e as farinhas”, a preço de ouro.
Mesmo assim, Jorge Turíbio não desiste. O interesse dos consumidores está a crescer e a procura é cada vez maior, num ano de falta de água considera “que é um milagre”. “Está até a superar outras raças autóctones”, “apesar de não haver quantidade suficiente para as grandes superfícies, apenas para os restaurantes”.
Mas afinal o que tem de especial? “É mais suculenta, mais tenra, com pouco nervo e mais gordura. É uma carne marmoreada, quase como o presunto de porco preto”, define o produtor.
No norte do país a raça é bastante apreciada e lá fora também em países como Alemanha, Inglaterra e Noruega.

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