O padre responsável pelas Paróquias de Moura e Santo Amador, José Manuel Guerreiro, pronunciou-se pela primeira vez na sua página do Facebook, sobre os abusos de menores na Igreja Católica Portuguesa.
Com o sentido de justiça sempre presente, mostrou-se “feliz” quando a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), “decidiu constituir uma Comissão Independente para os Abusos de Menores na Igreja Católica Portuguesa (CI)”.
Esse seria o ponto de partida para que “sem medos e enfrentando a verdade”, se pudesse “purificar a igreja, fazendo justiça às vítimas de abusos sexuais no seu seio”, mas também “abrir um novo caminho e dar, ao mesmo tempo, o exemplo à sociedade de que devemos encarar a nossa história, com os aspetos bons e maus, sem qualquer receio, purificando aquilo que há a purificar, usando da verdade, da justiça e da misericórdia”.
Com tudo o que foi ouvindo, sabia que a Igreja “não estava imaculada a respeito destes crimes, na medida em que ela é constituída por homens e mulheres sujeitos às mesmas enfermidades, pecados, que qualquer outro ser humano”.
Por mais “dolorosa” que fosse a verdade, o padre José Manuel fez questão de a ouvir do início ao fim. “A verdade por vezes custa a ouvir, pois somos confrontados com a realidade e esta era dolorosa; dolorosa em primeiro lugar para aqueles que foram vítimas deste crime horrendo e que agora vêm remexida a ferida nunca sarada, depois para aqueles que, com as suas limitações e fragilidades, amam a Igreja e dão a vida por ela – falo dos padres, religiosos, leigos, bispos”.
Depois da apresentação do relatório, sentiu-se “desiludido”. “Esperava que os Bispos reagissem em uníssono; que para isso se reunissem, analisassem exaustivamente o relatório, pedissem perdão e propusessem um caminho concreto que levasse a cuidar das vítimas e a purificar a Igreja”. “Aquilo que vi, como todos os portugueses, foi os Bispos a falarem a várias vozes – por vezes aparentemente contraditórias – a sua inabilidade e também do Secretário da CEP em comunicar, como que erráticos, confusão em terminologias – como se o simples leigo soubesse distinguir – e esquecendo que a misericórdia e o perdão não dispensam a justiça”.
“Fiquei desiludido com os meus Bispos, triste também e por vezes enraivecido com determinadas expressões – no silêncio em casa, pedia a Deus: ‘Faz com que eles se calem, Senhor! Abre-lhes os olhos e ajuda-os a encontrar alguém que os ajude a falar.’
No seu parecer de cinco pontos essenciais, a Igreja Católica devia pedir “perdão a todas as vítimas de abuso sexual” e suspender “todos aqueles, que estando sobre a alçada da Igreja, estão na lista que nos foi entregue pela CI”. Devia ainda “garantir” o acompanhamento psiquiátrico e psicológico de todas as vítimas que “desejarem e solicitarem” e comprometer-se em pagar as indeminizações de os custos do “processo cível” dos que foram abusados.
Nas palavras do pároco e de acordo com o que já foi criado na Igreja, canónica e não canónica, o mais coerente seria que os “Bispos e as Dioceses dessem continuidade a aspetos que se considerem necessários, colocando exclusivamente nas mãos de leigos, especializados nas mais diversas áreas, as Comissões Diocesanas”.
No último, mas não menos importante item, fez referência à “admissão e acompanhamento dos candidatos ao sacerdócio, diaconado permanente e vida religiosa, bem como a admissão de agentes da pastoral”, em que sugeriu que as normas fossem revistas.
O padre das Paroquias de Moura e Santo Amador mantém a esperança de que os Bispos e a Conferência Episcopal Portuguesa, “saibam dar respostas concretas às vítimas e à sociedade e que – a título permanente – encontrem um leigo especialista na área da comunicação, para que os possa assessorar”.
Após a publicação da declaração na sua página do Facebook, a comunidade enalteceu as palavras de José Manuel, que consideraram de “clarividência” e “coragem”.