Não sou vidente

Não sou vidente, mas tenho acertado algumas previsões nesta coluna. Recentemente, houve, entre outras, duas que quero recordar. A primeira diz respeito à alta da inflação anual, que já vinha subindo desde antes do final de 2021 (de zero, tinha chegado a 2%) e agravou-se logo após as eleições legislativas de Janeiro/2022, subindo em flecha. Qualquer governo democrático odeia a subida da inflação, porque lhe tira votos e, no limite, o pode derrubar antes do final do seu mandato. Em A PLANÍCIE (ed. Abril/2022) escrevi isto (sic): “… quando o governo orçamentou um reajuste salarial aos funcionários públicos de 0,9% para 2022 e a inflação poderá chegar aos 7% (…), e nem mesmo o reajuste do salário mínimo nacional compensará essa subida da inflação (…), causando uma insatisfação generalizada na população…”, alguns leitores acusaram-me de ser pessimista, porque a inflação seria temporária, e eu não deveria assustar as pessoas, etc.. Quando, depois, em A PLANÍCIE (ed. Maio/2022) escrevi que (sic): “… o atual governo PS tem algumas culpas no que está acontecendo, (…) no que se refere à percepção popular sobre a inflação mais evidente, por aparecer de imediato, (…) na produção e distribuição de alimentos e de todos os demais bens essenciais, consumindo gasolinas e/ou eletricidade e gás, o aumento de preços tem sido geral e grande…”, voltaram as mesmas acusações. Agora, que a inflação anual já chegou aos 10%, ninguém mais me acusa e, alguns dos acusadores, já dizem que eu tinha razão…
O segundo caso começa na campanha para as últimas eleições autárquicas de Moura. O facto mais importante prometido nessa campanha pelo PS, que geraria empregos e renda significativos em Moura, foi a transformação da fábrica municipal de painéis solares, para passar a produzir baterias de lítio, necessárias para a mobilidade elétrica (carros e não só), com investimento inglês “já contratado e que entraria em produção em Novembro/2022”. Ainda na campanha, eu mesmo, em debate público, classifiquei essa promessa como enganadora e, em A PLANÍCIE (ed. Dezembro/2021), escrevi isto (sic): “… enganadora de eleitores porque nada está contratado, existindo apenas um protocolo de intenção, nada garantindo ainda…” e continuei, nesse mesmo artigo, acrescentando que (sic): “… se implantada a dita transformação da fábrica existente, o fim será a sua inviabilização, com prejuízos e ilusões para os mourenses, que sonham com o prometido…”. E expliquei o porquê de tais prejuízos, mas também, porque eu previa que tal implantação nunca iria ocorrer, por razões técnicas e financeiras que descrevi e que aqui não vou repetir. E pergunto: alguém já viu uma só palha que seja, no avanço efetivo de tal projeto? Nem o contrato ainda foi assinado… Antes assim, para que o sonho mourense do lítio não se transforme em pesadelo.
No entanto, a prova de que não sou vidente é que também tenho falhado em algumas previsões, entre as quais, a que mais me incomoda, é a relativa à invasão da Ucrânia pela Rússia, sobre a qual escrevi, em A PLANÍCIE (ed. Agosto/2022), que (sic): “… quando começarem a chegar, às centenas, os caixões de militares russos mortos em combate, para serem entregues às famílias e serem sepultados, e os milhares de feridos de guerra ocuparem todos os leitos dos hospitais, o povo russo se revoltará, manifestando-se publicamente contra a guerra e obrigará Putin a negociar a paz, ou as forças armadas russas o tirarão do poder político…”. Não preciso de escrever mais nada, pois é evidente, lamentavelmente, o meu erro de avaliação, sobre uma guerra que ainda está para durar e, na qual, os mortos em combate russos já vão nas dezenas de milhares. Também em ucranianos e, estes, com a agravante de ficarem, os sobreviventes, no final do conflito, com um país totalmente devastado, em termos físicos e sociais (infraestruturas e famílias destruídas).
Finalmente, mesmo não sendo vidente, apresento-vos uma previsão para 2023, a qual é a de passarmos um ano muito difícil, com recessão impiedosa e consequente instabilidade social, graças ao autismo do governo PS, o qual, no OE 2023, teima em não considerar a inflação como sendo estrural e sistémica e não reajusta devidamente salários, pensões e reformas, mas considera mais aumentos nos preços de combustíveis, eletricidade, gás, etc.

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