As leis da política

Roberto Campos (1917-2001), grande economista brasileiro, reconhecido mundialmente como tal (doutor pela Universidade de Colúmbia-EUA e, em Bretton Woods, foi um dos co-fundadores do Banco Mundial e FMI), também foi escritor (membro da Academia Brasileira de Letras), diplomata e político (ministro do Planeamento, deputado e senador). Como diplomata chegou a ser embaixador do Brasil no Reino Unido, tendo promovido na embaixada diversos eventos culturais, com participação de intelectuais e políticos de várias nacionalidades. Num desses eventos, um irlandês dissertou sobre realismo e existencialismo, partindo da “definição de realidade” oriunda da sua revolta, por ter de interromper as suas libações alcooólicas, quando os pubs fechavam (para ele, “a realidade é a ilusão criada por uma aguda escassêz de álcool”). Antes de passar adiante, uma curiosidade: quando estava em Londres, como embaixador, Roberto Campos fêz parte da banca de doutoramento, em York, do português Aníbal Cavaco Silva, futuro primeiro ministro e presidente da República.
Mais tarde, junto com José Guilherme Merquior (escritor brasileiro), que estivera no evento acima citado e ambos lembrando a tal “definição irlandesa de realidade”, resolveram criar o que chamaram as “leis de comportamento sócio-político, segundo o realismo alcoólico”. Depois, Roberto Campos escreveu um artigo de opinião (jornal “O Globo”, 19/Dez/1999), onde relatou o que acontecera e, de memória, listou aquelas leis, atribuindo a autoria a ambos. Desse artigo transcrevo algumas dessas leis, que considero mais amplas, pois parecem ser “leis da política”, hoje em dia:

  • Lei de Lênin: “É verdade que a liberdade é preciosa. Tão preciosa, que é preciso racioná-la”;
  • Lei de Stálin: “Uma única morte é uma tragédia. Um milhão de mortes é uma estatística”;
  • Lei de Krushev: “Os políticos em qualquer parte são os mesmos. Prometem construir pontes, mesmo onde não há rios”;
  • Lei de Henry Kissinger: “O ilegal é o que fazemos imediatamente. O inconstitucional é o que exige um pouco mais de tempo”;
  • Lei de Franklin Roosevelt: “Um conservador é quem tem duas excelentes pernas. Contudo, ele nunca aprendeu a andar para a frente”;
  • Lei de lord Keynes: “A dificuldade não está nas idéias novas, mas em escapar das antigas”;
  • Lei de Bernard Shaw: “Patriotismo é a convicção de que o nosso país é superior a todos os demais”;
  • Lei de Hayek: “Num país onde o único empregador é o Estado, a oposição significa morte por inanição. O princípio de que quem não trabalha não come, é substituído pelo princípio de que quem não obedece não come”;
  • Lei de Mark Twain: “Um banqueiro é um fulano que nos empresta um guarda-chuva quando faz sol e exige-o de volta quando começa a chover”;
  • Lei de Charles de Gaulle: “As promessas só comprometem aqueles que as recebem”;
  • Lei de John Randolf: “O mais delicioso dos privilégios é gastar o dinheiro dos outros”;
  • Lei de Getúlio Vargas: “Os ministros dividem-se em dois grupos: um formado por gente incapaz e outro por gente capaz de tudo”;
  • Lei de Mario Cuomo: “Faz-se campanha em poesia e governa-se em prosa”;
  • Lei de J. K. Galbraith: “A política não é a arte do possível. Ela consiste em escolher entre o desagradável e o desastroso”;
  • Lei de Sócrates: “Entre celibato e casamento, o homem que escolha. Em ambos os casos ele se arrependerá”;
  • Lei de Hubert Humfrey: “É verdade que há vários idiotas entre os deputados. Mas os idiotas constituem boa parte da população, que merece estar bem representada”; e
  • Lei de Montesquieu: “O político deve buscar a aprovação, jamais o aplauso”.
    E Roberto Campos conclui assim o seu artigo: “tentei cumprir todas estas leis, porém sem sucesso”.
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