A assustadora situação energética global

Como vos escrevi no meu anterior artigo de opinião em A PLANÍCIE, o nosso governo não teve outra opção que não fosse a de tentar (sem sucesso significativo no valor final do litro de combustível, devido a novos aumentos no carvão, petróleo e gás natural) baixar os preços dos combustíveis reduzindo o valor do ISP (imposto sobre produtos petrolíferos), até que a União Europeia (UE) aprovasse “em breve” a proposta ibérica (conjunto Portugal+Espanha) de fixação e controle desses preços. Isso não aconteceu e consta que a UE não vai aprovar tal proposta, sendo sintomático o silêncio do governo sobre este assunto, bem como, incompreensivelmente, o dos partidos da oposição.
Muito antes de qualquer ameaça da Rússia à Ucrânia, a situação energética global já era ameaçadora. Neste momento tornou-se perigosamente desoladora. As chantagens de Moscovo à Europa começaram antes do início de 2021, tendo sido preciosas para uso pelos ambientalistas no ataque aos países europeus industrializados. Essa propensão da UE para se auto-imolar em nome das “metas climáticas” inalcansáveis, evidenciando quão bizarro é o seu masoquismo energético, e, consequentemente, ficando totalmente dependente da Rússia, é um dos maiores actos de auto-sabotagem da História. A tão elogiada percepção política de Angela Merkel, vê-se, agora, quanto foi um enorme e brutal erro, pelo menos nas áreas da energia, pois nos colocou, a todos, não apenas os alemães, nas mãos de Vladimir Putin, um dos piores autocratas de todos os tempos, ditador que pode detonar uma guerra mundial nuclear, se a guerra que iniciou, por motivo fútil, lhe estiver dando mau resultado.
Em paralelo com a desastrada política europeia acima citada, os EUA ficaram anciosos para não ficarem atrás e trataram de, já no governo de Joe Biden, cederem às pressões dos ambientalistas, revogando licenças para construção de novos oleo e gasodutos (ligando as jazidas de Alberta, no Canadá, às refinarias no Texas) e vetando a implantação de novos projectos de produção de combustíveis a partir de xistos nos EUA, que, como resultado, ficaram, ainda mais, dependentes energeticamente de outros países. Ou seja, estão pedindo à OPEC que aumente a produção de petróleo e gás natural, para que os preços dos combustíveis não aumentem demasiado, quando a inflação já dá mostras de poder ficar incontrolável. Aumentar a dependência dos EUA em relação ao petróleo estrangeiro é algo que deixa os cidadãos americanos muito nervosos, pois detestam ficar vulneráveis às turbulências políticas de países instáveis e de governantes caprichosos, como o são todos os grandes exportadores de tal matéria prima.
O comportamento energético do Ocidente beira o inacreditável. Um movimento ambientalista radicalizado, em conluio com políticos sem visão, fêz com que investir em prospeção, extração e refino de petróleo e gás natural se tornasse uma actividade extremamente arriscada financeiramente. Nenhuma empresa fará investimentos de longo prazo, imobilizando capitais muito volumosos, em época de tanta instabilidade geopolítica como a que atravessamos, numa actividade que está cada vêz mais mal vista pela sociedade (que depende dela e não entende isso), chegando a ser criminalizada e correndo o risco de vir a ser proíbida por governos fracos, como os que temos. Sendo assim, a realidade será a de cada vêz menos oferta de combustíveis fósseis e a preços cada vêz maiores, independentemente do desfecho da guerra na Ucrânia. Trata-se de um desastre auto-induzido pelo Ocidente, o qual deve maravilhar Putin, mesmo que, no final, a Rússia fique, como vai ficar, muitíssimo dependente da China, assunto para um próximo artigo.

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