A guerra na Ucrânia, e suas consequências em países como Portugal, fazem-me interromper a sequência de artigos que vos prometera continuar a escrever (o que retomarei) sobre temas eleitorais e como melhorar a representatividade das regiões do interior. A inflação já vinha subindo desde antes do final de 2021 e agravou-se logo após as eleições legislativas de Janeiro/2022. Subiu em flecha logo que começou a invasão da Ucrânia pela Rússia e ainda vai subir mais, sem dúvida alguma. Qualquer governo democrático odeia a subida da inflação, porque lhe tira votos e, no limite, o pode derrubar ainda antes do final do seu mandato. No caso de Portugal, quando o governo orçamentou um reajuste salarial aos funcionários públicos de 0,9% para 2022 e a inflação poderá chegar aos 7% (nunca será menor do que 5%), e nem mesmo o reajuste do salário mínimo nacional compensará essa subida da inflação, na verdade, não haverá aumento no poder de compra dos cidadãos, mas, sim, haverá uma grande quebra nesse poder, causando uma insatisfação generalizada na população, a qual, como sempre, tenderá a colocar as culpas no governo vigente.
Tenho a opinião de que o atual governo PS tem algumas culpas no que está acontecendo, mas não é este o momento para as discutir. No entanto, no que se refere à “percepção” popular sobre a inflação mais evidente, por aparecer de imediato, ou seja, nos aumentos dos combustíveis (gasolinas, etc.) e das energias (eletricidade, gás, etc.), a maior parte da responsabilidade não é do governo, mas, sim, da guerra em curso na Ucrânia, que levou o mundo quase todo a sancionar a Rússia, a qual é o grande fornecedor de petróleo e gás à Europa, matérias primas que passaram a custar quase o dobro do que custavam um mês atrás. Como a economia portuguesa, incluindo a produção e distribuição de alimentos e todos os demais bens essenciais, “consome” gasolinas e/ou eletricidade, o aumento de preços tem sido geral e grande. Consequentemente, muitos políticos de esquerda (PS incluído), apavorados, começaram a falar em fixar preços aos combustíveis, gás e eletricidade, por decreto, política existente no passado, não remoto, em alguns países (ditaduras, comunistas, etc.), sempre com resultados desastrosos, porque ninguém produz e/ou vende o que quer que seja com prejuízo.
Numa economia de mercado, quando um determinado bem se torna escasso, o efeito que isso gera é um aumento no seu preço, o qual serve para reduzir a quantidade que os compradores tencionam comprar, até a um nível que esteja dentro do limite da reduzida oferta disponível. A função de tal sistema de preços é, portanto, coordenar a alocação racional de recursos escassos, impedindo desabastecimentos, açambarcamentos e racionamentos. A guerra na Ucrânia apenas intensificou uma tendência que já vinha ocorrendo há anos: a oferta mundial de petróleo vinha, e vem, sendo artificialmente restringida pela radical agenda ambientalista. O preço do petróleo já vinha subindo, tendo sido apenas temporariamente interrompida tal subida devido aos confinamentos mundiais, adotados no combate à COVID. A invasão da Ucrânia apenas intensificou a tendência acima referida. Enquanto as pressões ambientalistas estiverem sendo aceites pelas sociedades e seus governos, não haverá possibilidade alguma do sistema de preços levar ao aumento da produção de petróleo. Se os preços sobem em decorrência de uma restrição de oferta, mas a oferta está artificialmente proíbida de ser aumentada, então os preços vão subir contínua e ininterruptamente, apenas para se evitar o desabastecimento.
Mas tudo indica que, para os combustíveis e energias, pelo menos em Portugal e Espanha, ninguém quer respeitar o sistema de preços acima exposto. As pessoas querem que esses preços sejam manipulados, por decreto governamental, para que o seu padrão de vida continue exatamente como era, mesmo durante a guerra e a imposição ambiental. Querer lutar contra o sistema de preços, pedindo o seu congelamento, é como acreditar que a canetada de um político possui o poder de acabar com a fome, erradicar o analfabetismo, descobrir a cura de doenças, zerar a criminalidade, transformar drogados em cidadãos limpos exemplares e garantir bons empregos para todos. O sistema de preços, repito, não funciona de acordo com as emoções dos consumidores e tem de ser respeitado. Ele não aceita desaforos e qualquer tentativa de subjugá-lo, fixando tais preços, irá gerar punições. E quem será punido, duplamente, serão as pessoas, porque sofrerão o desabastecimento consequente e pagarão, em impostos, o custo do que faltar pagar aos produtores que mantiverem a pouca oferta que aparecer.