A vitória e o castigo

O resultado das recentes eleições legislativas não deixa dúvidas, há vencedores e há castigados. A maior vitória, maior até do que a do PS, é a de António Costa, que tudo arriscou e ganhou, indubitavelmente. Sem ter sido brilhante nos debates e na campanha, conseguiu conceber e realizar uma estratégia de sucesso, competente e que revela a sua grande capacidade de político populista. Podemos concordar, ou não, com esse tipo de política e de político, mas é a realidade. A menos de algo inesperado e grave, teremos estabilidade no governo para os próximos quatro anos.
O PR Marcelo tinha avisado que dissolveria o parlamento se o OE/2022 não fosse aprovado. Acredito que ele pensava que tal chumbo mostrava a necessidade de se mudar a composição partidária na Assembleia da República. Não acreditando ele que pudesse haver alguma maioria absoluta, opino que ele desejava ter no parlamento um arranjo, formal ou não, de PS+PSD, com qualquer um deles maioritário. Não conseguiu isso e ficou “prisioneiro” de António Costa, como PM de um governo sustentado por uma maioria absoluta na AR, que governará de forma sabidamente arrogante, pisando na oposição toda, de esquerda e de direita. Costa, na noite pós-eleições, falou que vai dialogar e ouvir todos; conversa mole, para nos fazer dormir descansados nessa noite (o pesadelo estará a caminho). Não haverá reestruturação do Estado e da economia. O dinheiro da “bazuca” será quase todo para a função pública e empresas apoiadas pelo Estado (tipo Novo Banco, TAP, etc.). O Estado vai inchar ainda mais (o actual baixo desemprego foi conseguido, quase todo, pela contratação de muitos milhares de novos funcionários públicos, inclusive municipais) e os gastos farão aumentar o déficit e o endividamento de Portugal. Em quatro anos, ou um pouco mais, teremos a quarta bancarrota nacional, todas causadas por governos PS.
Sendo certo que o povo não aceitou bem o facto de se ter estas eleições agora, castigou nas urnas quem ele pensa que as causou, ou seja, o BE (a maior vítima de esquerda) e o PCP. Na verdade, o PS tem grande parte dessa responsabilidade, mas Costa foi muito hábil na forma como ostentou o OE chumbado, como se fosse o seu programa eleitoral (sem abordar o quadro macro-económico, que convinha esconder), repetindo, até à exaustão, as melhorias nele contidas, escondendo o facto de não haver dinheiro para concretizar a maioria delas, e fazendo-se “vítima” dos “irresponsáveis” BE e PCP+PEV, que teriam causado uma “crise política”, acrescentando-a às crises sanitária, económica e social que se tinha e que o seu governo, através do SNS, tinha “gerido muitíssimo bem”… Além dos já citados BE e PCP, os demais castigados nas urnas foram o CDS (enrolado em brigas internas e sem se definir ideologicamente) e o PEV (desta vêz, nem a muleta do PCP o manteve de pé), que desaparecem do parlamento, além do PAN, que regressou ao seu início, com um só deputado (não é bom ser-se indefinido, dizendo que está disponível para casar com este, ou com aquele…) . O Livre recupera o lugar de deputado, que elegeu e “perdeu” em 3 meses, um facto que ficará para a História de um país de gente que tudo tolera.
O PSD ficou aproximadamente do mesmo tamanho, castigado pela oposição “mansinha” típica de Rui Rio e pelas sondagens pré-eleitorais, que mostravam aos eleitores um “empate” do PS com o PSD. António Costa soube mudar o discurso (deixando a arrogância de pedir a maioria absoluta para o PS e agitando o perigo da “geringonça de direita”, a qual incluiria o Chega, o “papão das criancinhas democráticas”) e capitalizou o voto útil da esquerda assustada. Em função desses mesmos discursos e sondagens, o voto útil de direita caminhou para o Chega e o IL, que tinham de se fortalecer, para poderem formar maioria com o PSD. Só que o voto útil de esquerda foi maior do que o de direita, e deu o que deu, para desgosto do PSD e satisfação de vitória do Chega e do IL, respectivamente, agora, a terceira e quarta forças políticas no país (facto que tem explicação lógica, mas tenho de a deixar para o próximo artigo).

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