Antes de continuar a escrever sobre as consequências da guerra na Ucrânia, desejo registar aqui que os governos de Portugal e Espanha sofreram (e calaram perante os seus cidadãos) uma derrota clamorosa na União Europeia (UE), a qual não aprovou o seu pedido conjunto para fixação de preços máximos (abaixo do que acontecia) de combustíveis, eletricidade e gás. Foi-lhes dito, pela UE, com argumentação similar à que vos dei no meu anterior artigo de opinião em A PLANÍCIE, que, se queriam que o mercado praticasse preços menores nesses itens, que cortassem nos impostos (IVA, etc.) que sobre eles aplicam. Uma lição que não deverá ser esquecida e mostra a incompetência económica de governos socialistas.
Não há como fugir do aumento dos custos energéticos decorrentes da guerra na Ucrânia, o que terá uma outra importante consequência, da qual quase nada se fala, mas vai perdurar por décadas, seja qual fôr o desfecho de tal guerra. O problema é o da redução do consumo dos combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural), o qual, em 2003, foi capa da conceituada revista The Economist, que os intitulava como “grandes vilões que teriam de ser eliminados”. Quase 20 anos depois, uma nova capa da mesma revista transforma tais vilões em heróis. O que terá acontecido, para que tal mudança tenha ocorrido? Levámos 5 décadas para que a participação dos combustíveis fósseis na matriz energética global caísse de 86,6% para 80,9%. Com que rapidêz conseguiremos fazer a transição energética para atender às “ditas urgentes” demandas climáticas? Durante a reunião da COP26, Bhupender Yadav (ministro do meio ambiente da Índia) teve a coragem e sinceridade necessárias para dizer isto: “Como alguém pode esperar que os países em desenvolvimento façam promessas sobre eliminar carvão e subsídios aos outros combustíveis fósseis? Países em desenvolvimento ainda precisam lidar com as suas agendas de redução da pobreza”. E como fica Portugal no cenário dos combustíveis fósseis voltarem a ser heróis? A resposta correta será a de que ficamos mal, muito mal.
Caso tivéssemos elaborado legislação sustentável e políticas públicas adequadas para o gás natural (que sabidamente existe no offshore do mar algarvio e alentejano), hoje poderíamos estar consumindo algum gás natural nacional, o suficiente para dispensarmos, sem custos adicionais, se não com preços menores, a parte russa da nossa importação de gás natural. E caso não tivéssemos sido os “bons alunos” que fecharam as termoelétricas a carvão um par de anos antes do prazo fixado pela UE, substituindo-o por aumento na importação de gás natural, o impacto do seu aumento de custo, nos preços finais da eletricidade e do gás, teria sido muito menor. Como consequência destes erros, temos de disputar a compra de gás dos EUA e africano com os países da Europa toda (incluindo os da UE) a um custo elevadíssimo, de mercado, o qual, de tão grande, por exemplo, a GALP já informou que não consegue comprar e isso terá consequências no preço do botijão de gás, uma energia de primeiríssima necessidade para as famílias portuguesas. Entretanto, ainda por exemplo, há um par de dias a Itália anunciou que contratou em Angola a compra suficiente para substituir, ainda em 2022, toda a sua importação de gás natural russo. E começa-se a perceber o motivo do conflito em Cabo Delgado (Moçambique), onde a TOTAL francesa se preparava para colocar em produção a maior “mina” do mundo de gás natural, prejudicando interesses árabes, russos e chineses.
A ansiedade para tratar assuntos complexos mediáticos, típica dos políticos portugueses, sempre leva a caminhos equivocados. Transições energéticas nunca foram feitas em anos, mas sim em décadas. Sem este entendimento vamos continuar expondo-nos ao aumento dos efeitos das mudanças climáticas (cíclicas ao longo da história do planeta) e à insegurança do abastecimento e custos energéticos, como se estes temas fossem opostos e não complementares. A propósito e voltando ao assunto da guerra na Ucrânia, já alguém ouviu as ONGs ambientais e seus arautos se insurgirem sobre a enorme destruição do meio ambiente na região, além da desumanidade intolerável que as TVs nos mostra diariamente? Há algo escondido nisto, mas porquê? Porque a guerra interessará aos financiadores dessas ONGs?